sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O Fantasma, o tesouro e eu

O Fantasma, o tesouro e eu

 





Antonio Celso









“O que eu gosto nas palavras não é a sua musicalidade, nãos são as rimas que construo, não é a mensagem que elas transmitem, é apenas o fato de elas me levarem até você...”
Antonio Celso


Olhando para a vida que passou por nós fico maravilhado pelas conquistas realizadas, quantas vezes nos vimos na condição dos desistentes da luta, mas o Senhor nunca nos desamparou e as soluções surgiram como mágica, e lá estávamos nós mais uma vez no campo de batalha...
Parece que foi ontem que entrei pela porta da capelinha do bairro, capelinha que nem existe mais e até o bairro já deixou de ser o que era...
E lá estávamos nós nos preparando para o inicio daquela que viria a ser a nossa vida de casados, onde iríamos construir a nossa tão sonhada família...
E logo de inicio tivemos que viver com a triste realidade na partida da nossa querida Ana, mãe da minha Lucia e pouco depois foram os meus pais que decidiram se transferir de dimensão...
Mas tudo isso é passado e hoje estamos mais uma vez reunidos nesta festa tão linda comemorando a colação de grau do nosso filho caçula, o Pedrinho...
Ah!!! O Pedrinho, esse tem histórias prá contar!
Hoje ele se forma médico, a sua e a nossa alegria não tem tamanho, porque ela representa a consolidação daquilo tudo pelo que lutamos nesses anos todos, não que nos tenham faltado recursos financeiros para a empreitada, isso não! Mas muitas vezes faltou sim foi um pouco de empenho, de vontade por parte do estudante, não foram poucas as ocasiões em que me vi na situação daquele pai autoritário que tinha de se impor para que não se perdesse toda a nossa semeadura nesse coraçãozinho tão duro, tão difícil...
Mas quando até as nossas forças pareciam esvaírem-se Deus com todo seu amor e sua sabedoria nos envia um dos seus anjos para nos socorrer na luta e assim aconteceu com o nosso Pedrinho. Quando ele estava com tudo pronto para deixar a faculdade por não encontrar ali mais aquele incentivo inicial do curso, eis que surge na sua vida aquela menina diferente, carinhosa e determinada. Ela olhando para aquela cara de desistente  foi logo perguntando:
_E daí menino, que acontece?
_Como assim acontece?
_To sabendo que você está deixando o curso sem nenhuma razão especifica.
_É verdade, não to afim mais de concluir meus estudos.
_Mas qual a razão disso afinal?
_Nada, falta de vontade mesmo!
_Ta e seu pai diz o que de tudo isso?
_O Velho? Oras, não tem nada pra dizer não!
_Como assim?!  Então seu pai e sua mãe não têm nada prá dizer?
_Claro que não, a vida é minha!
_Sua? Desde quando moleque! Você é apenas um filhote de papai sem responsabilidade alguma com a vida!
_Não to entendendo, o que afinal de contas você tem que ver com a minha vida?
_Com a sua nada, afinal de contas foi o seu pai que gastou além do dinheiro a própria saúde pra que você aqui hoje desistindo de tudo...
_Então...
_Então deixe de ser um bundão, Pedro, só isso!
_Ei!!! Devagar!!! Veja como você fala comigo menina!!
_Ah!! Doeu?? Acorda moleque!! O Dr. Luiz Carlos batalhou como um touro a vida toda prá criar, educar os filhos e você é o grande sonho desse homem que jamais mediu esforços para socorrer todos aqueles que dele necessitassem. E o maior necessitado, justo aquele que mais recebeu aquele que mais necessitou desse homem pra tudo, até pra nascer, vem hoje cantar de galo e dizer que simplesmente vai desistir? Sinceramente que queria mesmo é te dar umas palmadas!
_Ana Maria, você nunca falou comigo desse jeito, o que aconteceu?
_É que eu pensava que você tivesse a fibra do seu pai e nunca desistisse...
_Você pode me ouvir, por favor??
_Tudo bem, eu vou ouvir, mas não espere a mão na cabeça.
_Ana eu to pensando em mudar a minha área só isso.
_Sei, o que você quer fazer? Economia?
_Não menina, oncologia infantil.
_E precisava me fazer gastar tanta saliva por causa disso? Não bastava ter me dito antes?
_Você não me deu chances.
_ E o seu pai o que disse de tudo isso?
_Eu não contei nada a ele ainda, só falei que iria deixar o curso.
_Deixe de ser lesma, Pedro. Bastava dizer ao seu pai isso que me disse...
_Ta você me perdoa?
_Sim, mas com uma condição.
_Qual?
_Casar comigo!
_Como? A gente nem namorado é!
_Não tem problema, começamos agora Sr. Pedro!
E assim foi a Ana Maria transformou aquele moleque desajuizado num ótimo estudante de medicina com especialização na área de oncologia infantil. Ela não sabe o quanto agradeço por ela ter entrado na vida desse meu rapaz.
E hoje quando esse meu filho finalmente se forma, realizando um sonho que não é só dos pais, mas de todos que o amam, quero fazer um relato do que foi essa nossa vida desde aquela entrada na capelinha do bairro, onde recebi nos braços a minha companheira de vida.
Tudo começou mesmo a ter uma mudança na minha vida logo que iniciei meus estudos de medicina, pois ao sair da casa dos meus pais e mudar para a cidade onde iria estudar por tantos anos fui à procura de um Centro Espírita, já que sempre fui adepto da doutrina codificada por Allan Kardec. Fui iniciado na doutrina pela minha querida mãe e minha madrinha que era médium de psicofonia e tinha alguma vidência também. Foi ela que um dia chamando minha mãe de lado contou-lhe que sempre via ao meu lado uma entidade, parecida com um francês com um ar muito tristonho. Eu mesmo nunca senti nada e não prestei muita atenção àquilo.
Mas quando a minha mãe chegou mandou me arrumar prá gente ir ao Centro pela primeira vez foi como se aquilo fosse corriqueiro na minha vida e nunca mais parei. Fiz ali os cursos de evangelização infantil, passei pela mocidade espírita, os cursos de desenvolvimento mediúnico e tudo o mais que me fosse permitido dentro da casa.
No entanto, para o jovem fincar raízes dentro da doutrina é um pouco mais difícil, por termos a nossa carga de estudos e a vida escolar absorver muito da nossa energia, isso sem falar a vida social que o jovem não abre mão...
E mesmo assim sempre que possível lá estava eu participando de vários grupos, da coleta de alimentos, das tardes do sopão...
Até que mudei de cidade e de grupo espírita, mas aí eu já era um jovem em inicio de curso acadêmico, e nessa nova etapa da minha vida que foi bastante atribulada só podia comparecer mesmo era em algumas noites e tomar um passe, ouvir o evangelho, mesmo assim não deixei de ser espírita!
E fui me integrando e arrumando um tempinho aqui e ali para os trabalhos na Doutrina, foi quando conheci a Lucia. Aliás, eu já a conhecia, da faculdade mesmo, mas ali nunca trocamos uma palavra sequer, foi dentro da Casa Espírita que falei com ela pela primeira vez e descobri ali muito mais do que uma irmã na doutrina, e sim uma grande companheira.
Aos poucos fomos nos transformando em algo mais, mas não havia a menor condição de se pensar em algo mais sólido nem do meu lado nem do dela...
Mas o tempo esse grande transformador de vidas, fez conosco a sua mágica e logo depois de nos formarmos, fomos criando laços que ajudaram na nossa união.
Ah!! Esqueci de dizer que a sua família toda era espírita também. Sendo que sua mãe e avó eram trabalhadoras assíduas do Centro. Centro esse onde fui um dia para relatar algumas coisas estranhas que estavam acontecendo comigo.
Lá chegando fui recebido pela avó da Lucia que foi logo me deixando bem a vontade e perguntando afinal de contas o que estava me incomodando tanto.
_Falar bem a verdade eu realmente não sei dizer.
_Comece pelo começo, é sempre mais prático meu filho!
_Tudo bem, Dona Maria, é que toda noite nas ultimas semanas quando eu começo a dormir sou acordado por um barulho estranho, como se fosse alguém arrastando a perna pelo quarto...
_A perna ou as pernas?
_Uma perna só!
_E o que mais?
_Já várias vezes acordei com alguém me tocando no ombro, como se quisesse falar comigo!
_E o que você faz?
_Confesso que nas primeiras vezes fiquei com medo!
_Medo? Você? Meu filho você já estudou tudo isso dentro da nossa Casa e sabe que é apenas um irmão precisando se comunicar. Ele o escolheu sem duvida por ter alguma afinidade com você.
_Eu sei, mas porque ele não fala nada então?
_Você está preparado para ouvi-lo?
_Não sei!
_Esse é o problema meu filho. O plano espiritual muitas vezes desiste da comunicação por falta de sintonia ou vontade dos encarnados. Mas saiba que ninguém procura um contato sem ter alguma boa razão. E no seu caso especifico, como não é um caso de obsessão, de agressão energética, deve ser algum espírito que realmente necessita lhe falar. Vamos fazer o seguinte: você vai levar o livro dos médiuns para casa e procurará ler o capitulo que fala da mediunidade e seus vários tipos.  Ah! E também não se esqueça do evangelho no lar, isso sem duvida nenhuma irá clarear os caminhos tanto do irmão desencarnado e o seu!
E assim eu fiz, procurei também não faltar nos trabalhos da Casa, afinal de contas aquele espírito poderia muito bem se manifestar por lá mesmo...
Mas nada disso aconteceu e por isso me enfronhei cada vez mais nos estudos básicos da Doutrina, não que eu já não soubesse, mas como todo praticante que não exercita o seu saber eu estava meio enferrujado, mas graças a esse irmão intruso nas minhas noites fui me especializando em algumas coisas que não estava atento.
Dentro da Doutrina ouvimos muitas vezes irmãos ou mesmo pessoas alheias ao espiritismo contarem casos de envolvimento com irmãos desencarnados que estão lhe trazendo desconforto. Envolvimento esse dentro dos lares, no trabalho ou no transito diário e na maior parte das vezes descrevemos esses contatos como se fosse a invasão de alguém nas nossas vidas, sem jamais nos atermos que muitas vezes somos nós os invasores, já que ocupamos o espaço muitas vezes ocupado antes por alguém e que já partiu para a espiritualidade...
Isso sem falar das casas assombradas onde constantemente os moradores estão desconfortáveis. Bastaria apenas termos a consciência de que o nosso mundo é muito mais povoado do que imaginamos... Até a invenção do microscópio não tínhamos a menor idéia de que compartilhávamos o mesmo espaço com os seres infinitesimais, e depois do advento da codificação espírita, tomamos conhecimento de que dividíamos sim as nossas casas, o nosso trabalho, o transporte, enfim o nosso espaço com outros seres que não são mais que seres humanos, apenas em uma dimensão que interage com a nossa.
Quando meu filho, tivermos a percepção de somos membros de uma grande família e que nem todos estão ao alcance dos nossos olhos, mas estão ao alcance dos nossos sentimentos, os espíritos deixarão de ser os intrusos ou nós os encarnados deixaremos de invadir o espaço deles.
E assim foram passando os dias até que o meu visitante aparentemente desistiu da minha pessoa...
           Lembro que eu estava quase dormindo quando ouvi a sua voz, era um som bem grosso, profundo, que parecia vir das profundezas da Terra, assustou-me!
Mas o que realmente me deixou sem ação foi quando vi o seu rosto. Parecia um fantasma!  Aliás, era um fantasma!!!
Ele entrou pelo quarto arrastando uma perna e tirando o chapelão da cabeça, abaixou os olhos ao falar:
_Me desculpe moço, mas eu necessitava muito de falar com o Senhor!
Fiquei em silêncio, eu deveria estar dormindo e se aquilo não era um sonho, tinha que ser alguma coisa estranha no mínimo, foi quando ele me tirou bruscamente das minhas reflexões.
_Eu posso lhe falar?
_Sim – respondi – afinal de contas já acordei mesmo! Mas deixe que eu me levante e vamos conversar na sala, afinal de contas não fica bem dois homens ficarem conversando assim altas horas da noite num quarto escuro ainda por cima!
_Então meu amigo, por sinal muito estranho, o que eu posso fazer por você?  Não é um caso qualquer de doença?
_Antes de qualquer coisa deixe-me lhe fazer uma pergunta?
_Ahnnn... Sim!  
_Você é uma pessoa muito ligada aos bens materiais?
_Perdão, meu amigo, realmente eu estou meio perdido...
_Veja bem, moço, eu quero saber se você sente em relação aos bens materiais, ou melhor – o que você faria se recebesse uma grande fortuna?
_Um presente?? Depende!!
_Sim, um presente, um enterro!
_Você vai me enterrar?????
_Nãao!!! Por favor. Eu tenho sob minha guarda uma grande fortuna enterrada e necessito dar um direcionamento a essa fortuna, só isso....
_Ahh!! Sim!!
_Então o amigo é materialista???
_Sinceramente eu não sei, nunca ganhei nada, mas acho que não sou muito não, por quê?
_É que eu tenho lhe acompanhado já a algum tempo e vejo que você não é muito ligado às coisas materiais, por isso é que tenho uma proposta a lhe fazer.
_Qual?
_Quer ser o guardião de uma grande fortuna enterrada nas proximidades dessa cidade há mais de duzentos anos?
_Guardião?
_Sim!
_Perdão meu amigo, me explique. Pelo que entendi você é o cara que enterrou esse pote de ouro e tem ficado preso até hoje a ele e agora que passar essa gororoba pra mim é isso?
_Mais ou menos...
_Sei....
_É muito simples, essa fortuna pertence ao seu mundo, não ao meu. E ela tem que servir para alguma coisa, alguma coisa muito positiva, claro! Não pode ficar enterrada mais, por isso é que eu escolhi, ou pelo menos tento escolher uma pessoa que não seja muito materialista...
_Senão...
_Será mais um prisioneiro do ouro, entendeu?
_Essa pessoa sou eu?
_Se você quiser aceitar, ou melhor, merecer!
_Ta, mas antes eu preciso saber de uma coisa.
_O que?
_A história toda desse pote de ouro, do seu conteúdo e a sua história, como você se tornou o guardião disso tudo...
_A minha história?
_Sim, meu amigo. Esse enterro tem lá sua história, não?
_Tem sim e é muito triste!
_Então me conte, por favor!
_Certo então se prepare pra uma viagem no tempo e para alguns sustos também.
Tudo começou no ultimo ano do longo reinado de Napoleão Bonaparte, quando ele já tinha perdido todo o seu poder e vendo morrer o seu sonho de reconstruir o seu império. Mesmo exilado na Ilha de Santa Helena ainda tinha poder e amigos, eu era um deles. E o grande Imperador me deu uma missão que de imediato considerei uma grande loucura, mas era uma ordem ele e eu deveria cumprir como sempre fiz na minha longa carreira de militar Francês sob suas ordens. Segundo as ordens recebidas eu deveria tomar uma embarcação e partir para a América trazendo comigo várias arcas recheadas de pedras preciosas, barras de ouro e demais riquezas acumuladas ao longo dos anos pela coroa francesa. Fortuna essa que deveria ficar sob minha responsabilidade para ser utilizada mais tarde quando talvez uma nova revolução ocorresse em solo Francês. E fui então encarregado como chefe da missão, sendo que apenas eu sabia do conteúdo das arcas no porão do navio. O destino inicial da viagem era o México, onde então havia uma grande colônia francesa em franca expansão, mas a mão do destino resolveu agir e depois de uma viagem atribulada, onde ocorreu o afundamento de uma das naus, assim depois de algumas dificuldades aportei na costa brasileira, mais precisamente no Rio de Janeiro.
Para todos os efeitos eu era um rico membro da deposta Casa Real Francesa, e sendo um daqueles membros afastados do poder não pesava sob mim nenhuma mácula do imperador deposto e nessa altura já morto na Ilha de Elba.
Chequei nas terras brasileiras numa chuvosa manhã de abril e decidi me internar pelo interior do país com minhas bagagens e os poucos familiares que me acompanhavam.
Minha esposa e um filho pequeno.
Tendo conseguido a duras penas, já que não falava a língua natal e não tendo uma pessoa para me assessorar nessa área, foi com muita dificuldade que consegui me fazer entender. Mas como necessidade é uma língua universal, apareceu uma alma caridosa para me socorrer e fui então para o interior de São Paulo onde em pouco tempo me transformei num pequeno fazendeiro. Ali construí uma rede de amigos e associados e me tornei além de criador de gado também financiador dos tropeiros que iam para o sul atrás de tropas e mercadorias. Naquela época a vida era muito difícil no interior do Brasil e para aqueles homens rudes e corajosos ter um local para o descanso da tropa e ter alguém para financiar seus projetos era um maná caído dos céus. Em pouco tempo tornei-me um grande comerciante local, uma grande referência para todos que aportavam naquela região. Usando uma parte da fortuna dos franceses comprei terras, gado e conforme fui me inteirando, aprendendo o jeito do povo local fui me transformando num grande fazendeiro e até na política comecei a influir.
Por essa época, o Brasil estava passando por uma grande mudança, pois em 1822 D. Pedro de Alcântara, príncipe herdeiro da Coroa Portuguesa havia proclamado a Independência do Brasil e assumido a coroa imperial do país. Para quem possuía alguns bens e tinha a intenção de investir era a hora certa, já que tudo por aqui estava ainda por construir. Iniciei então uma empresa de transporte de mercadorias pelo interior do Brasil, já que então tinha as rotas dos tropeiros bem definidas.
Graças a isso fiquei conhecendo grande parte da região sul e sudeste, não foram poucas as viagens que realizei sempre em busca de melhores negócios.
A vida melhorou e muito, a família aumentou, se transformou e no meu segundo casamento, já que a minha mulher francesa não resistiu ao clima local vindo a falecer de uma febre qualquer, casei novamente com uma mestiça que me deu mais cinco filhos, sendo três moças e dois rapazes.
Acontece que estou me esquecendo de dizer que eu era muito, mais muito materialista e tirando o dinheiro que investi nos meus negócios e utilizei no bem estar da família, o que sobrou da fortuna enterrei sem jamais ter contado a quem quer que seja da sua existência!
Aquela fortuna enterrada tornou-se a minha fixação e não tinha um dia em que não passasse por aquele sítio para dar uma olhada se tudo estava em ordem. Mandei que fossem plantadas árvores, aquele local fosse transformado num pequeno bosque. Até uma nascente tentei encontrar por ali em vão.
E nesse cuidado fui me distanciando dos filhos, da esposa, da família e passei a ter para com eles um comportamento distante, fria e muitas vezes chegando ao limite da agressão gratuita.
Ah!!! A alma do materialista é uma coisa tão estranha!!!  É uma alma negra e a gente não faz idéia do que é capaz o enlouquecido pelo ouro.
Transformei a vida da minha família, dos meus filhos num inferno, apesar de todo o meu dinheiro, da riqueza que desfrutava, nunca permiti que meus filhos tivessem acesso a nada que não fosse o absolutamente essencial para viver. Mas o tempo passa e até os tiranos envelhecem e perdem suas forças, seus poderes...
Comigo não foi diferente, a idade foi se achegando, os filhos crescendo e totalmente desprendidos da minha pessoa, foram se ligando à mãe, que também não me suportava e ocorreu que com a idade me tornei um pernóstico ainda pior, mais tirano e então fiquei aleijado...
Então num belo dia acordo com aquela imensa casa em silêncio, totalmente vazia!
Todos tinham partido e o pior: Foram apenas com a roupa do corpo, não levaram nem mesmo um chinelo a mais. Deixaram-me tudo, fiquei só com a minha fortuna e a minha solidão...
Só restou ao meu lado uma velha serviçal que cuidou da minha velhice, do meu azedume e da minha maldade como pôde.
Fiquei pior. Mais azedo, mais tirano e com o tempo fiquei sabendo que minha família tinha partido para o Rio de Janeiro e alguns deles foram para o Nordeste. Em vão tentei contato, mas era como se eles tivessem se evaporado...
Eu já estava então com setenta e tantos anos, velho, doente e totalmente abandonado, mas não me considerava culpado de nada, eu era a grande vitima ali!!!!
E providenciei então para que tudo aquilo que eu considerava valioso fosse devidamente enterrado para que aqueles ingratos jamais tivessem acesso  à minha fortuna....
Acontece que a vida não é propriedade nossa e um dia acordei me sentindo estranho, mais livre, não sei... Tudo estava muito diferente para mim... Até minhas velhas pernas voltaram a funcionar quase com perfeição. E Virei um serelepe, quase morri de alegria!!!!
Mas coisa estranha... Se eu andava, corria, gritava, não tinha mais tantas dores pelo corpo, eu podia gritar o dia inteiro que ninguém me ouvia!!! E pegar os objetos então???  Impossível!!! Quase fiquei louco e por algum tempo, não sei dizer o quanto fiquei fechado num quartinho escuro que encontrei na casa.
Até que um dia depois de muito tempo, ouvi vozes diferentes no meu velho solar. Imaginei que algum dos meus filhos poderia ter voltado pra me ver. E, sim um deles voltou o caçula, aquele que levava o meu nome. Lá estava ele, mas coisa estranha, ele tinha cabelos brancos e já estava encurvado pelos anos e aquelas vozes infantis que eu ouvi eram os seus netos....
Levei um susto, pois o meu caçula tinha apenas dezesseis anos!!!
Tentei de todas as formas falar com eles, mas nada! E o pior que tudo o que era meu não existia mais. Só a minha velha e carcomida foto na parede do solar sobreviveu...
É... os anos haviam passado... Eu havia morrido!!!
E descobri isso de uma maneira muito estranha...
            Um dia de manhã ouvi um das minhas bisnetas, aquela que eu mais gostava falando da minha pessoa:
            _Vovó, vamos visitar o bisavozinho??
            Entrei em pânico, elas iriam entrar no meu quartinho, naquele cubículo onde eu me escondia!!!
            _Não, minha filha!  Nós vamos ao cemitério, levar flores no tumulo do vovô, hoje é o dia do aniversário dele, amor.
            _Tumulo ??? Cemitério ???  Como assim???
E lá foram elas e eu também. Foi ai que descobri que aquele quartinho apertado onde eu me escondia era o meu tumulo e aquela cama desconjuntada eram os restos carcomidos do meu caixão...
Minha vida mudou, comecei a olhar tudo com outros olhos, entrei numa depressão profunda, adoeci, até minhas pernas voltaram a ser um problema...
E sem o meu quartinho, ou melhor, meu velho e conhecido tumulo, mudei em definitivo para o velho solar, onde ficava a maior parte do dia acompanhando as brincadeiras das crianças e foi ali que comecei a ver algumas mudanças em mim graças às preces matinais e noturnas da família.
Minha nora ensinava aos filhos as orações dominicais e junto com eles eu também entrava em prece, muitas vezes sem nem prestar atenção no que era dito, mas recordando da minha querida mãe que fazia as mesmas coisas quando eu era pequenino e nem imaginava que aquilo era uma oração... Mas a palavra divina vai entrando na gente devagarzinho e sem que notemos vamos absorvendo esse remédio divino e até sem merecer vamos mudando prá melhor.
Mas tudo na vida é mudança e o tempo passou célere para todos nós.
Meu filho e sua esposa vieram também para esse lado de cá, minhas netas cresceram, casaram e o velho casarão foi vendido. A Cidade invadiu minhas terras e eu virei um velho fantasma solitário. Daí então sem família e sem teto...
Mudei em definitivo para o cemitério...
Mas o pior de tudo é que eu não consegui deixar esse lugar.
Saiba que tentei... Depois que descobri sobre a minha “morte” e vi que podia ir pra onde quisesse, até que tentei. Mas o único lugar em que posso ficar com relativa liberdade é no cemitério.
Aqui já vi cada coisa...
Tem todos os tipos de espíritos...
Tem duas classes de defuntos bem tristes de se ver por aqui.
A primeira são os suicidas, esses sim são tristes. Estão sempre carregando uma dor horrorosa...
A segunda são os materialistas como eu, mas tem uns que dá até nojo!!!
Tem um por aqui que foi um político importante e está sempre ajuntando  ossos dos túmulos e gritando que essa é a sua fortuna.
Outros há que sem a menor idéia que já morreram se agarram aos seus restos mortais com uma fidelidade canina.
Temos por aqui um coitado que morreu há mais de vinte anos e até hoje vive grudado na própria caveira...
Outros há que não aceitam a morte e ficam deprecando contra Deus e suas Leis...
Ainda há os religiosos que querem o céu de imediato ou ficar dormindo prá sempre...
Mas o engraçado é que na ala infantil do cemitério há certo ar diferente, ali parece que há uma paz que destoa deste lugar tão lúgubre. Não foram poucas às vezes em que vendo algum sepultamento infantil, notei por ali o trânsito de seres iluminados. Sempre é um grupo de moças e rapazes que vêm buscar o espírito desencarnado e os acolhe com tanto carinho que chega a dar até inveja na gente....
Mas na ala dos adultos a coisa é bastante diferente, pois infelizmente é onde a inocência deixou a muito de existir e muitos daqueles ali sepultados ainda estão à mercê dos seus erros ou dos seus desacertos...
Enfim cemitério para o pobre defunto despreparado é sem duvida um grande hospício com um coração de mãe...

Mas a minha vida continuou seguindo o mesmo roteiro de tantos e tantos anos, coitado de mim fiquei preso perto de tudo aquilo que enterrei há tanto tempo...
Todo dia tenho que ir até lá e como uma minhoca etérea entrar na terra e ficar contando, acariciando, zelando daquela fortuna que nunca foi minha....
_Que história!!!
_Mas ainda não acabou não!
_Não?
_Não!  Um dia já cansado de tudo aquilo, eu estava vagando a esmo pelo campo santo e perguntando a Deus até quando iria ser a minha pena, quando sem querer entrei no meio de uma turma que acompanhava um enterro e entre aqueles que conduziam o esquife havia um grupo de espíritos acompanhando o finado, quando do meio deles saiu um espírito, era um rapaz vestido todo de branco que me estendeu os braços abertos e sorrindo me disse:
_Papai, vim lhe buscar!!
Não sei o que me aconteceu, cai de joelhos nos pés daquele moço que sorrindo me falava com tanto carinho:
_Meu pai, venha para os meus braços!
Quando ouvi aquilo desmaiei e ao recobrar os sentidos me vi numa cama de hospital. Era um espaço todo branco muito calmo e tranqüilo.
Aquele moço que me chamou de pai ali estava também sorridente.
_Então meu pai, como está agora?
_Papai? Perdão meu jovem, mas eu não estou entendendo nada. Onde estou?
_O Senhor está numa enfermaria e eu sou o eu filho Agenor.
_Agenor???
_Sim, meu pai, Agenor!
_Meu Deus, Agenor meu filho me perdoe, me perdoe!!!
_Psiu, silencie o seu coração.  O Senhor está em convalescença depois de uma longa enfermidade e precisa ficar calmo. Outra hora a gente conversa com mais calma. Por agora só posso lhe dizer que o senhor foi socorrido e que estará a partir disso sob a guarda dos amigos que zelam por essa instituição.
E acabei adormecendo num sono como há muito tempo não tinha. Acordei bem disposto e coisa estranha, as minhas idéias estavam muito bem concatenadas, meus pensamentos equilibrados e eu tinha muitas perguntas....
Quando entrou no quarto um senhor muito simpático que foi logo abrindo as cortinas e a  janela deixando o sol matinal invadir o recinto.
_Bom dia, meu irmão, tudo bem?
_Sim Doutor, mas não entendo...
_Chame-me de irmão Antonio, mas o que o irmão não está entendendo?
_Como vim parar aqui nesse hospital? Como sai daquele cemitério??
_Muito simples, o meu irmão foi socorrido por uma equipe que o acolheu quando o meu irmão pediu socorro e o transportou para essa ala do nosso hospital que não fica assim tão longe do campo santo.
_Eu pedi socorro??
_Sim, quando o meu irmão elevou o seu pensamento até Deus, estava pedindo socorro, só que da sua maneira, do seu jeito...
_Posso fazer-lhe uma pergunta?
_Sim, só não sei se poderei responder a contento, por favor!
_Quanto tempo fiquei no meu “quartinho” do cemitério?
_Meu irmão. A sua ultima encarnação iniciou em fins do século XVIII, vindo a findar em meados do século XIX e estamos entrando no século XXI...
_Meu Deus!!! Então...
_É meu irmão, mas isso não deve preocupá-lo somos todos filhos de Deus e somos eternos.
_Mas eu perdi dois séculos...
_Nem tudo foi perdido, muita coisa se salvou.
_Quais???
_Os seus filhos, sua descendência...
_Filhos que abandonei que não soube amar, que não soube respeitar...
_Meu irmão, todos nós erramos, todos nós falhamos em algum momento das nossas vidas. Mas sempre chega a hora de corrigir os nossos erros e fazer o acerto com as nossas falhas
_Como corrigir? Se nenhum deles está por aqui para me perdoar? E a minha companheira, coitada que teve sobre os seus ombros toda a responsabilidade que eu abandonei?
_Como não estão aqui para lhe perdoar? E o Agenor? Meu irmão deixe de ser tão pessimista, o momento é de arregimentar forças, de ganhar novas energias e tocar em frente. Não se martirize, tudo a seu tempo. Agora você precisa descansar para ganhar forças. Logo vai chegar o momento de acertar tudo.
E assim foi. O Tempo passou, fui melhorando, deixei aquela enfermaria e passei para a ala dos convalescentes onde fui convidado a realizar pequenos trabalhos, até que me deram alta.
Mas ir para onde?
Fazer o que?
Eu sou um fantasma velho e esquecido no mundo!!!
Mas Deus tem para todos nós as suas regras muito bem definidas. Até que um dia fui chamado pela administração, eles tinham um projeto para mim.
_Meu querido irmão Pierre, como se ente? Está tudo bem??
_Tudo ótimo, Senhor Diretor, só me sinto um inútil!!
_Sei, o irmão é um espírito dinâmico e essa ociosidade toda é realmente desagradável... No entanto sei também que o irmão não tem ficado parado, mas com certeza não é isso que o irmão quer fazer, não é mesmo? Então creio que chegou a hora de umas mudanças na sua vida.
_Mudanças??
_Sim! O irmão se lembra daquela fortuna enterrada?
_E como esquecer? Se ela não sai da minha cabeça?
_Então, é dela que vamos conversar.
_O meu tesouro?
_Seu?? Meu irmão me responda com o coração. Quem é dono de quem nessa história? Você é o dono do tesouro ou ele é que é seu dono?
_É... só agora descubro que fiquei prisioneiro dele todos esses anos!
_Prisioneiro ou carcereiro? Jesus, nosso Divino Mestre já nos alerta há muito tempo que nós prendemos os nossos corações onde colocamos nosso tesouro. Se dermos na nossa vida um valor excessivo aos bens materiais em detrimento aos outros valores que são muito mais importantes, nos tornamos prisioneiros do ouro e da prata... Riquezas essas que necessitam de um guardião constantemente...
_É verdade, eu que o diga!
_Não só você, meu irmão, mas muitos outros espíritos encarnados e desencarnados também. Saiba que grande parte da população da Terra nos dois planos perde muito tempo das suas vidas atrás de acumular valores que se desvalorizam todos os dias. A história da humanidade seria muito diferente se as riquezas fossem mais bem compreendidas e aplicadas.  Cada geração comete as suas falhas e nas próximas gerações os mesmos espíritos retornam para desfazer os erros cometidos, ou seja, estamos sempre tendo que arrumar aquilo que destruímos ou desmanchamos no nosso caminhar reencarnatório...
Isso sem falar do atraso que praticamos no progresso da humanidade todas as vezes que retemos sem o menor escrúpulo qualquer quinhão das riquezas que são colocadas ao nosso dispor, porque há muitas formas de se enterrar o patrimônio divino. É só olharmos a quantidade de imóveis que ficam por décadas abandonados na periferia das grandes ou pequenas cidades, tudo porque alguém é “dono” deles. A quantidade de numerário que as pessoas deixam esquecidas em contas bancárias visando o cuidado com pseudo velhice, quem nos garante que irmos chegar a envelhecer???
Talvez nos aconteça como aquela passagem evangélica onde o individuo guardou toda sua lavoura em silos novinhos em folha e procurou o descanso porque já tinha riquezas pela vida toda, que vida? Se ainda naquela noite seu espírito seria chamado por Deus???
Muito provavelmente se tivéssemos não a visão, mas as consciências da finitude permanente da vida física utilizariamos as riquezas do mundo na cota exata das nossas necessidades e deixaríamos o restante onde a encontramos...
Mas o que vemos infelizmente é que as gerações se sucedem e os seres humanos ainda continuam ensinando os seus rebentos a crescerem, estudarem e procurarem pautar suas existências em busca do possuir, do ter como se essa fosse a única finalidade de se estar aqui, quando que o Divino Mestre veio ensinar exatamente o contrário...
E assim a humanidade vai muito vagarosamente atingindo o seu grau de evolução quando seria muito mais fácil se fossemos menos materialistas, menos egoístas.
_E o que eu faço com essa minha obsessão?
_Nós vamos fazer meu irmão, Deus tem um projeto para essa fortuna. Riqueza essa que como todas pertencem ao Pai Celeste. Os homens são apenas guardiões temporários e têm que devolver ao verdadeiro dono mais cedo ou mais tarde.
_No meu caso já fiquei tempo demais com o dinheiro do homem!!!
_Sem dúvida!
_Mas como vou fazer para me livrar daquilo tudo?
_Livrar-se? Isso não será possível nem fácil... O meu irmão já ouviu falar de investimento?
_Claro, foi por causa disso que me perdi!
_Sim, mas investimento de amor!
_Não estamos falando do enterro, então?
_Sempre estivemos falando dele. Pierre, meu irmão, você conhece a parábola dos talentos?
_Sim, mais ou menos...
_Jesus nos conta nos evangelhos de Mateus e Lucas que um rico senhor iria partir para uma longa viagem e então chamou seus servos e entregou a eles certa quantia em dinheiro para que eles aplicassem durante a sua ausência, ao primeiro ele entregou cinco talentos, ao segundo dois e ao terceiro um apenas. O que recebeu cinco quando da volta do seu senhor devolveu-lhe dez, pois havia aplicado no mercado aquela pequena fortuna, o que recebeu dois, devolveu quatro, mas aquele que havia recebido apenas um talento devolveu o mesmo, pois havia enterrado o dinheiro do seu senhor com medo de não saber aplicar a riqueza recebida... Pois bem nós também agimos assim muitas vezes com os talentos que Deus nos dá por misericórdia... E o fazemos muitas vezes por mera preguiça...
Quantas vezes nós deixamos o nosso corpo sepultado não apenas sob um punhado de terra, mas sufocado com a vida que nos deixa junto com a história de um grande omisso e ausente trabalhador. Recebemos tantos talentos que poderíamos ter explorado com toda a nossa energia e pelo contrário, sepultamos tudo com a nossa inércia...
_Esse sou eu, o enterrador mor de talentos da humanidade!!!
_Sim meu irmão, mas chegou a hora de desenterrar tudo e colocar essa riqueza no mercado da vida para trabalhar!!!
_E como farei isso?? To mortinho da silva, lembra???
_Sim, estamos desencarnados, mas não mortos, meu irmão. E não só podemos como devemos agir em prol da vida. Não importa de que lado dela o espírito esteja sempre será nossa obrigação trabalhar e crescer.
_Então... Então... Tenho que ir lá e desenterrar tudo aquilo, e daí?
_Meu irmão. Você não vai desenterrar nada, não pode, não é mesmo? Não, meu irmão, você é um espírito desencarnado! Nós faremos o seguinte: Vamos conduzi-lo a um centro espírita para que você se aclimate melhor no intercambio entre os dois lados da vida e depois disso você terá acesso à melhor forma de agir nessa sua nova missão. Missão que continua a mesma: Financiar a revolução!!
_Revolução?
_Sim, o meu irmão se lembra do motivo da sua saída da França e a razão de toda aquela fortuna guardada?
_Mas aquilo era loucura de outros tempos, outras idéias!
_A idéia era mesmo uma loucura, mas a revolução sempre se fez necessária meu irmão. E hoje a revolução será outra, a do amor. Essa dá mais trabalho, viu?
Se os seres humanos prestassem atenção naqueles poucos que aqui chegam e fazem das suas vidas uma ode ao amor e à caridade, veriam quanto trabalho dá amar ao próximo e à vida... Sem dúvida encontrariam ali material didático bastante para transformar as suas vidas também em uma empresa produtiva na economia do amor. E teriam a certeza que sim estamos aqui para aplicar todos os nossos minutos em amar e amando nos tornarmos melhores...
E assim foi feito e durante algum tempo fiquei naquela comunidade hospitalar, e fui descobrindo ser muito mais que um simples hospital, na verdade era quase uma cidade com todas as suas nuances. Gradativamente fui me integrando a vários grupos de trabalho e de estudos. Fui aprendendo muito sobre a vida extra-corpo e desenvolvendo minhas aptidões espirituais.
E para o espírito desencarnado que assume a sua “morte” as descobertas são muitas, aprendemos que a locomoção não acontece da forma habitual, que muitas vezes aquele susto que levamos ao nos encontrarmos em lugares estranhos pelo simples fato de pensarmos em ali estar. Que sim, os espíritos quanto mais desligados das coisas terrenas mais podem realizar, mas também aprendemos que muitos desencarnados continuam tão ligados à matéria que muitos encarnados ganham deles em leveza espiritual...
Vi muitos espíritos carregando imensas cargas que mais pareciam mulas vergadas sob aquele peso...
Muitas vezes tive penas desses seres, esquecido da minha cruz...
Aprendi que a vida espiritual não é uma vida de ociosidade e que os espíritos que dessa forma permanecem apenas estacionam e atrasam o seu progresso. Que há muitos espíritos nessa situação, mas que Deus jamais os abandona e que muitas vezes são conduzidos a reencarnações compulsórias, onde impossibilitados de interferir no seu processo reencarnatório  renascem muitas vezes em lares bastantes problemáticos e acabam por sofrerem as conseqüências da sua falta de vontade de crescer...
Encontrei muitos irmãos que por ali estavam fazendo estágios nos vários grupos de trabalho com os pacientes ali socorridos visando uma futura reencarnaçao dentro da área da medicina.
Grupos havia em que os espíritos estavam apenas em busca dos seus entes queridos e procurando recambiá-los de volta à vida física por falta  absoluta de condições de melhorar por ali mesmo.
Convivi com um grupo de freiras francesas que ali estavam estagiando para retornarem à pátria mãe onde iriam trabalhar nos hospitais franceses quando da próxima reencarnação que seria em grupo.
Mas infelizmente havia também os recalcitrantes crônicos, aqueles que não queriam aprender, nem desenvolver absolutamente nada de positivo, para esses não restam senão o retorno à vida do mundo exterior àquela comunidade. Um dia perguntei ao irmão Antonio sobre esses espíritos e ele me respondeu que o Pai não violenta nenhuma consciência e que é dado ao homem o direito de escolher o seu caminho, mas não o direito de reclamar depois...
E fui ficando por ali, aprendendo, convivendo, ouvindo, analisando e trabalhando...
E trabalhei!! Trabalhei muito!!!
Até que um dia o nosso querido Diretor veio conversar comigo no jardim florido em frente à enfermaria onde num fim de tarde em que eu descansava depois de um longo dia de trabalho.
_Então meu irmão, tudo bem?
_Graças a Deus, cada vez melhor!
_Isso é maravilhoso, porque essa deve ser a mossa meta – melhorar sempre!
_Senhor Diretor eu quero lhe fazer uma pergunta.
_Não vou nem tentar dizer-lhe o meu nome... Você não aprende mesmo... Então faça. Mas em primeiro lugar nunca esqueça de que somos irmãos e que estamos há tanto tempo juntos, ta? Irmão Pierre!
_Eu agradeço de coração tudo o que o irmão tem feito por mim e peço perdão pela minha desatenção, irmão Antonio.
_Tudo bem, e quanto a sua pergunta?
_É isso mesmo que me incomoda, irmão Antonio, pois que aqui sou tratado como membro da família, mas sou um homem que não amou a ninguém, passei minha ultima existência na terra semeando tristeza e causando desgraças em todos os que se aproximaram de mim. E aqui nesse lugar maravilhoso sou tratado como se fosse embaixador de um país amigo. É tanta atenção, tanto carinho que realmente me sinto mal. Não sou merecedor disso tudo...
_Meu irmão, veja bem, todos nós chegamos nessa Casa do Senhor um dia em situação análoga à sua ou muito pior.
Para Deus, todos nós somos Seus filhos muito amados e a visão que Ele tem do erro é muito diferente da nossa. Então eu diria que o Pai investe nos seus filhos, como o semeador da parábola de Jesus, esperando que o solo ainda árido dos nossos corações se modifique para que as suas sementes que são divinas e eternas frutifiquem... Então quando o solo se modifica a semente encontra meios de criar suas raízes, entendeu?
_Mais ou menos...
_Veja bem você, você meu irmão não foi pior que muitos outros seus contemporâneos, o que lhe faltou foi apenas uma visão diferente da vida. Pelo menos o dinheiro não foi utilizado no crime, na destruição do patrimônio alheio, de vidas....
_Mas eu enterrei tudo o que tinha: valores e sentimentos!
_Sim, mas o que está enterrado pode ser dali retirado e colocado para trabalhar. Acalme seu coração, meu irmão que Deus sempre tem um projeto melhor para todos nós, seus filhos endividados... Entendeu?
_Sim, meu irmão, mas agora o que eu faço da vida? Continuo aqui?
O irmão sabe que ainda tenho aqueles ataques de ir ver aqueles bens enterrados?
_Sim, claro e saiba que o tenho acompanhado nas suas visitas e já notei a mudança que lhe ocorreu no íntimo, pois hoje nas suas visitas você vai até aquele local e ali faz suas preces...
_Sim, meu irmão foi desde que meu filho me encontrou no cemitério, lembro-me de quando ele era bem pequenino e sua mãe lhe ensinava a rezar o Pai Nosso, ela ensinou a ele e a mim também...
_Graças a Deus, as mães são colocadas nas nossas vidas e sempre nos ensinam a sermos melhores! Mas agora chega de papo, irmão Pierre, eu vim até aqui para avisá-lo de que hoje teremos a nossa primeira visita ao Centro Espírita da vila.
_Hoje? Será que estou preparado? Não vou assustar aquele povo todo lá?  Não esqueça que sou um velho e horrível fantasma do século passado!
_Ah, ah, ah, Pierre, meu irmão você parece um menino enamorado. Venha comigo até a fonte e olhe o seu reflexo na água.
_Meu Deus!!! O que é isso? Esse não sou eu é um rapazinho de uns 20 e poucos anos!!!
_Esse é você sim seu velho fantasma do século dezoito...
_Mas como que pode?
_São as sementes que Deus plantou no seu coração dando frutos. A partir do momento que você começou a trabalhar, a investir seu tempo  e o seu carinho ofertar aos outros, que começou a fazer suas preces, a agradecer a tudo o que já recebeu, sua vida se transformou tanto por dentro quanto por fora. Deus age no silêncio das nossas almas e nós nem notamos a nossa transformação. Isso vale tanto para o bem quanto para o mal, claro que no mal o agente da mudança somos nós mesmos e nossos atos... Quando você agiu causando dor e tristeza você se degenerou, mas quando você transformou seus atos em setas de amor você se renovou só isso. Então vamos?
E fomos naquela mesma noite até o Centro Espírita Caridade e Amor que ficava ali mesmo na comunidade próxima do centro hospitalar espiritual.
Lá chegando notei que era um prédio sem muitas invencionices. Compunha-se de três salas, sendo que na primeira estava a nos receber dois jovens, um casal. Qual não foi a minha surpresa quando a moça abriu os braços e veio sorrindo me receber.
_Papai, seja bem vindo, papai querido!
Cai no choro e se eles não tivessem me socorrido eu teria caído de joelhos ali na frente da menina.
_Minha filha! Minha filha!
_Que é isso papai, não faça assim!
_Que você quer que eu faça?
_Me abrace e venha para dentro. Temos muito que conversar, mas não agora.  Ah!! E abrace o seu filho, tá?
Aproximei-me do meu filho Agenor e dei-lhe em beijo na face, tentei falar alguma coisa, mas a garganta estava travada pelas lágrimas, a emoção era demais...
Confesso que não entrei, fui levado por eles...
Lá dentro quando consegui me recompor fui notando que a casa era muito maior do que pensei. Havia ali muitas cadeiras, mais de cem e nos dois planos. Entre os encarnados havia jovens, casais, crianças, velhos e muitos, muitos doentes. Alguns em verdadeira petição de miséria, já no nosso plano a coisa era mais organizada, éramos mais ou menos uns 300 espíritos, mas cada um na sua faixa vibratória, ou seja, havia faixas de contenção, mantendo todos dentro de um relativo equilíbrio, digo relativo já que somos também como os encarnados espíritos doentes...
Meu querido irmão Antonio veio e me tomando pelo braço me convidou a visitar o recinto.
_Venha irmão Pierre, ainda temos algum tempo e será muito bom que você conheça o ambiente e os seus trabalhadores, já que irá passar algum tempo nesse grupo.
E lá fomos nós, saímos do interior do recinto e novamente paramos em frente ao prédio onde ele me fez ver que a pequenez era muito relativa, já que a parte espiritual daquela Casa Espírita era algo avassaladora, pois enquanto aos olhos físicos era apenas uma casa desataviada e anônima da periferia, do nosso lado era um prédio de mais de vinte andares, um imenso hospital, aliás, como ele me ensinou, isso é um Centro Espírita – um laboratório de amor e caridade!
_Então, meu querido irmão, o que você está achando?
_Incrível!
_Imagine a gama de trabalho que se realiza nesse local!
_Nem consigo!
_É muito grande, mas veja que há uma imensa carência de trabalhadores e não só nesta casa, mas praticamente em todas! E trabalhadores nos dois planos, pois os necessitados sempre encontrarão o caminho do hospital, porém muitas vezes aqueles que devem prestar o socorro não!
_É muito grave isso irmão Antonio! E o que pode ser feito?
_Preparar mais trabalhadores, mais servidores.
_Como?
_No nosso plano começamos nessas visitas onde levamos os irmãos já melhorados, quase saudáveis para conhecer os trabalhos aqui realizados e acordar neles a vontade de servir.
_E dá certo?
_Muitas vezes sim, mas às vezes os espíritos não querem trabalhar e daí...
_E no plano físico?
_Ai é a necessidade que age!
_Como assim?
_É muito simples, a pessoa procura a Casa Espírita no auge dos seus problemas ou é conduzida por um parente ou amigo onde é esclarecido dos seus problemas espirituais se houverem e levada a fazer um tratamento médico convencional se necessário ou a continuar se já estiver se tratando com um médico. Uma vez na Casa Espírita ele será gradativamente esclarecido e convidado a participar dos grupos de estudo ou de desenvolvimento mediúnicos ali realizados. Alguns permanecem e acabam por descobrir que grande parte dos seus problemas, seus envolvimentos espirituais é devido à sua mediunidade. Mediunidade essa de que todos os seres humanos são portadores em maior ou menor grau e dos mais variados tipos e formas. Mas não se engane porque nem todos ficam na casa onde receberam tratamento e encontraram sua melhora. A maior parte vai cuidar da sua vida. Mas isso não é problema, pois as sementes foram colocadas em novos solos, novos corações... Assim a vida vai seguindo a sua toada meu amigo!
_Interessante, porque quem apenas olha essa casa aqui de fora ou a vê lá de dentro não enxerga mais do que uma casa de oração como outra qualquer, muitos nem prestam atenção.
_Sim, é isso mesmo, mas isso é normal, porque é a necessidade que nos leva a novas descobertas. Sempre foi assim nas descobertas que a humanidade realizou. Sempre foi a necessidade de uma só pessoa ou do coletivo que impulsionou o progresso. Aliás, nós mesmos estamos aqui por causa da necessidade, não?
_Verdade! E que necessidade a minha!
_Tudo bem, venha quero lhe apresentar o irmão Nestor, o dirigente espiritual da Casa.
E entramos novamente no recinto onde os trabalhos já estavam acontecendo. No plano físico um dos irmãos fazia uma preleção onde enfatizava a necessidade da semeadura, mas principalmente da atenção devida às sementes esparzidas juntos aos corações, solos divinos ao nosso dispor. Dizia ele:
           _Irmãos na Parábola do Semeador o Divino Amigo nos ensina que o semeador saiu a semear, enquanto semeava, uma parte da semente caiu ao longo do caminho, e vindo os pássaros do céu a comeram.
           Outra caiu nos lugares pedregosos onde não havia muita terra; e logo nasceu porque a terra onde estava não tinha profundidade. Mas o Sol tendo se erguido em seguida, a queimou; e, como não tinha raízes, secou.
           Outras caíram nos espinheiros, e os espinhos, vindo a crescer, a sufocaram.
           Outra, enfim, caíram em boa terra, e deram frutos, alguns grãos rendendo cento por um, outros sessenta e outros trinta.
           Que ouça aquele que tem ouvidos para ouvir.  (Mateus, cap. 13, 1 a 9).
           Irmãos nós ao ouvir essa passagem evangélica ficamos a pensar no quanto as nossas sementes são importantes e o quanto a nossa responsabilidade com a semeadura deve ser criteriosa, pois as sementes são divinas e o solo deveria ser também... Quantas vezes deixamos de aplicar os critérios do amor na nossa semeadura ou fazemos tudo com a leviandade característica de quem não quer fazer o trabalho... Se muitas sementes irão se perder nos mais variados tipos de solos, isso não quer dizer que devemos deixar esses solos abandonados. Se os corações colocados próximos a nós não entenderem ou não aceitarem a nossa forma de ser, de semear devemos nos lembrar sempre que Deus conhece muito bem os Seus filhos e ao colocar ao nosso lado aquele ser que parece tão duro de coração Ele está nos ensinando que os nossos corações também são empedrados e que será no chocar desses corações que faremos a transformação necessária. Devemos então, semeadores lembrarmos sempre que os nossos corações são apenas diamantes em estado bruto e que eles serão lapidados por outro diamante, então se desistirmos da semeadura pela dureza que encontrarmos no coração amado, com certeza continuaremos também com os nossos corações em estado bruto. Vamos procurar semear com carinho e amor sem a pretensão de uma colheita precoce, as sementes pertencem ao Pai...
           Quando cada um de nós nasce, retorna á vida física Deus, o criador do universo nos dá um corpinho novinho em folha, lindo, grande ou pequeno não importa, e um coração cheio de esperanças... A cada um que vai renascer na Terra é dado certa quantia de sementes, uma gleba de solo rico e uma enxada novinha em folha. A todos é ofertada a chance de uma grande semeadura, no entanto, sempre tem aquele que aqui chegando com todas as sementes as enterra de qualquer jeito no primeiro buraco que encontra. Esquece a enxada que abandonada de qualquer jeito enferruja e então desatento torna-se um ladrão de sementes alheias e passa a vida toda reclamando de Deus, da vida, esquecido de que não fez a sua parte.
           Então o dia que voltar para o plano espiritual e lhe é cobrada a sua participação na semeadura da vida não tem o que apresentar. Quando é feita a cobrança, quando do Divino Fazendeiro vem receber a sua parte das sementes emprestadas encontra um semeador que egoísta, preguiçoso não tem o que devolver...
           Essa é a história sobre a vida e o que fazemos com ela.
           História que devemos levar aos entes queridos para acordar nos seus corações que estamos reencarnados para fazer a nossa semeadura e distribuirmos as sementes de vida, de esperanças para que não ocorra sairmos daqui e adentrarmos na vida espiritual pobres, muito pobres....
No nosso plano, havia um vai vem incrível, já que a população presente era muito maior, mas coisa incrível, não havia balburdia como seria de se esperar!
_Irmão Nestor! Que prazer revê-lo meu amigo!
_Querido irmão Antonio que bom tê-lo conosco mais uma vez!
_Nestor meu amigo quero lhe apresentar o irmão Pierre de quem já lhe falei!
_Seja muito bem vindo meu irmão, o irmão Antonio já nos falou da sua pessoa!
_Sei... e deve ter falado  que a minha capivara é muito longa....
_Ah! Ah! E o seu humor também, isso é muito bom! Mas não se preocupe, ele apenas me falou da sua grande vontade de trabalhar e de servir.
_Graças a Deus!!!!
_Não ligue irmão Nestor ele é assim mesmo!
_Isso é bom! Afinal de contas nós os espíritos desencarnados também brincamos, também rimos, não?
_Sim, mas vamos entrar e participar dentro das nossas possibilidades naquilo que for permitido por Jesus!
_Que assim seja!
Nesse momento se aproximou do irmão Antonio uma senhorinha muito nervosa e lhe dirigindo a palavra solicitou um minuto da sua atenção.
_Pois não minha irmã em que posso lhe servir?
_Irmão Antonio é sobre o meu filho Luiz.
_Sim?
_Irmão tenho acompanhado a sua estadia no campo santo e sinto que ele está menos recalcitrante nos últimos dias. Venho rogar ao seu coração se não poderia ser feito algo por esse meu filho tão duro de coração, mas que nos últimos tempos se mostra mais propenso a mudanças?
_Sim minha irmã, tão logo encerremos os trabalhos por aqui tentaremos mais uma vez socorrer o nosso irmãozinho adoentado. Nesse ínterim procuremos colaborar com os trabalhos da casa, é em nós mesmos que investimos
E lá fomos nós, para mim tudo era novidade e descobertas, algumas bem assustadoras! Como da primeira vez em que assisti a uma sessão de psicofonia. Jamais imaginei que aquilo fosse possível e então vi um dos espíritos ali presente se aproximar de um dos médiuns e através dele transmitir sua mensagem. E o susto maior foi quando o dirigente me avisou que logo seria a minha vez. Mas dizer o que? E para quem?
Bem, o dia, ou melhor, a noite chegou e lá estava eu, sem ter a menor idéia do que iria acontecer...
Mas o dirigente se aproximou e disse-me para ficar tranqüilo, pois tudo iria acontecer de forma muito natural.
Natural para ele é claro, porque para mim aquilo iria ser uma verdadeira novidade, afinal de contas eu iria falar pela boca de outra pessoa e na de uma mulher!
Tão logo terminaram os trabalhos daquela noite fomos junto com o irmão Antonio e sua equipe de socorro ao cemitério para atender a solicitação daquela pobre mãe que não deixou o filho abandonado nem quando ele mesmo optou por se abandonar...
Chegando ao campo santo fomos recebidos por um irmão que ali fazia o atendimento aos irmãos em necessidade. O irmão Antonio após apresentá-lo perguntou como estava o nosso socorrido do momento ao que o irmão respondeu que ele estava muito mudado nos últimos tempos e que talvez fosse a hora certa de socorrê-lo.
Aproximamo-nos do local onde ele se encontrava e o irmão Antonio o chamou pelo nome:
_Carlos!! Carlos!! Acorde!!
Aquele espírito foi saindo da sua sonolência e procurando quem o chamava foi saindo daquela dormência toda.
_Quem me chama???
_Sou eu sua mãe meu filho!!!
_Mamãe??? Onde está a senhora que eu não a vejo???
_Calma meu filho, nós estamos aqui para socorrê-lo, fique calmo por favor!!  Falou carinhosamente o irmão Antonio.
O rapaz não disse mais nada e o socorro pôde ser realizado sem maiores conseqüências e logo depois de ele ser colocado cuidados da equipe médica em conversa com o irmão Antonio procurei saber a história daquele pobre irmão.
_Meu irmão, esse espírito que hoje foi socorrido é um irmão que há mais de meio século se encontra algemado ao seu tumulo e aos seus restos mortais, ou ao que restou dele. Foi durante mais de sessenta anos um homem com o coração totalmente bloqueado para qualquer sentimento mais puro, mais amoroso. Herdeiro de uma grande fortuna deixada pelo seu pai e tendo ficado só com a mãezinha em casa e sendo ela já de certa idade, simplesmente a expulsou e tomou posse de tudo para si. A pobre velhinha veio a morrer no mais triste abandono e ele se internou na sua doentia idéia de posse material. Mas para ele também o tempo passou e veio a falecer no mais atroz abandono mas ficou grudado àquilo que achava ser seu e apesar de toda intercessão materna ao longo desses anos todos só agora é que houve condições de lhe prestar o socorro devido.
_Mas como vai ficar ele agora?
_Vai passar por um longo tratamento até que esteja em condições de reencarnar novamente.
_E como será essa reencarnação?
_Será mais uma prova para ele, se a riqueza foi sua perdição, ela será mais uma vez sua companheira, até ele aprender a dividir...
_Credo!! A vida é muito estranha...
_Estranha não, meu irmão, prática!!
E me integrei àquele grupo onde o trabalho e o estudo era uma constante.  Aprendi que sou um espírito em ascensão constante, mas também que sou ainda um espírito muito endividado que necessita ainda de ajuda como de aprender a ajudar!
E no Centro Espírita aprendi as grandes lições que mais necessitava na minha vida, lembro-me de uma palestra que ouvi ali e que me marcou muito, versava sobre o amor ao próximo, dizia o orador:
            _ Amar... Como está ficando difícil amar a si mesmo, como a vida está nos transformando constantemente em sobreviventes de um mundo em constante atrito, em permanente desassossego. Amar a si mesmo é antes de tudo se conhecer e saber o que pode ou não ser bom para a nossa vida.
              E quem é o próximo, afinal de contas? Quem é essa pessoa anônima, este ser sem rosto, sem personalidade?
  Questão essa que deveria estar clara a qualquer um de nós, afinal de contas todos nós sabemos claramente quem é o nosso próximo, não é mesmo?
  Pensemos um pouco nesta pergunta e respondamos em silêncio, pois próximo é aquele ser querido que faz parte da nossa vida, sem contar o desconhecido com quem cruzamos todos os dias.
  Mas será que nós temos consciência de quem realmente é o nosso próximo a quem Cristo nos ordena que amemos?
  Vamos fazer uma pequena análise, coloquemos personagens na nossa história:
 Cada um de nós é o centro de tudo, afinal de contas olhamos para o horizonte e vemos tudo claramente, ouvimos tudo em detalhes estamos,  portanto,  no centro do nosso mundo particular.
 Temos então que distribuir as pessoas nas nossas vidas:
_Na nossa direita ficarão as novas gerações, aqueles que vieram depois de nós.
_Na nossa frente ficarão aquelas pessoas da nossa geração, nossos contemporâneos.
_E na nossa esquerda aqueles que vieram antes de nós.
1- À minha direita vamos colocar as novas gerações, aqueles que vieram depois de mim. São pessoas para as quais tenho que ser o exemplo, afinal de contas são os meus filhos, os meus sobrinhos, filhos dos meus visinhos e amigos, meus netos e assim por diante. Para essas pessoas eu sou o “coroa”, afinal de contas quando eles me conheceram eu já era velho, e tenho que ser para eles a experiência que fala e age, tenho que agir como um professor de vida, pelos meus exemplos, pela minha conduta, ter um amor pedagógico, ou seja: Faça o que eu faço e faça o que eu mando.
2- Para aqueles que estão na minha frente, os meus irmãos, os meus colegas de escola, de folguedos, da escola dominical, minha visão de amor tem que ser diferente, pois nós falamos a mesma língua, é com esta turma que eu fui as festas, aos bailes, namorei, briguei, fiz as pazes. Crescemos, estudamos, trabalhamos e vivemos as mesmas fases da vida. Com eles eu tenho o amor participação, o amor permuta de valores, o amor conhecimento.
3- Á minha esquerda eu tenho a geração que veio antes de mim: São meus pais, tios, avós e os conhecidos mais velhos. Aqueles que me viram crescer, se formar, casar e contribuíram para que fosse quem eu sou. Para com eles eu tenho o amor afeto, o amor carinho, o amor colo. Com eles é que eu busco minha história, meus sonhos mais íntimos e mais fraternos.
 Se para aqueles que estão a minha direita eu tenho que ter o cuidado de proteger, de cuidar, de passar as melhores lições o meu amor é aquele de quem viu tudo acontecer, afinal de contas com muitos deles nós fomos a primeira fralda, a primeira mamadeira, vimos os primeiros passos, as vacinas, o be-a-bá, então por eles nós somos eternamente apaixonados.
 Para aqueles que estão à nossa frente o meu cuidado é outro: participar, ouvir, visitar e receber, trocar receitas de bolos e doces, pescarias, jogos de futebol, o meu amor então é o da história vivida e compartilhada. Neste grupo eu me apaixono e desapaixono constantemente, afinal de contas estamos sempre em trânsito, sempre trocando de posições na vida.
 Para aqueles que estão à minha esquerda o meu amor já é de agradecimento, pois ao contrário daqueles que estão à minha direita, eles fizeram por mim tudo o que eu já fiz para os meus filhos. Deles eu recebi tudo o que tenho, e um dia a história vai se inverter com certeza, afinal todos nós envelhecemos, e vai chegar a hora em que eu terei que cuidar deles também. E o amor daqueles que estão a minha direita será a resposta do amor que eu der aos meus velhos, pois eu sou o espelho onde eles procuram o seu reflexo e amanhã quando for a minha vez de ser cuidado serão eles que farão isso.  Para esse grupo eu é que sou a eterna paixão da vida.
 Dessa forma ficou mais fácil praticar o amor ao próximo, eu já sei quem são eles. E agora em qual dos grupos eu poderia ter desafetos?
No da direita? – Mas como se estas são as minhas crianças, que eu amo.
No do meio? – Por quê?  São os meus melhores amigos. Ninguém me conhece melhor do que eles.
No da esquerda?- Como?    São os pais e a família maravilhosa que Deus me deu de presente?
 Todo aquele irmão que se aproximar de nós, virá com a sua cruz ou com a sua luz e cabe a nós sabermos como trabalhar o nosso amor para amarmos e sermos amados por todos eles.
  Mas meus irmãos, com tanta gente maravilhosa ao nosso redor, amar fica muito mais fácil!!
Essa palestra me fez pensar muito sobre os meus atos e a minha vida, não só o período de encarnado, mas a minha vida de hoje, afinal o que eu estou fazendo de tão especial assim pelos outros?
E teve outro momento que também me marcou bastante, pois num dos trabalhos em que participei o orador chamou a nossa atenção para o nosso comportamento frente à vida e usou uma página que dizia assim:
            _Pensemos em nós como aqueles estagiários, aqueles funcionários temporários que entram nas empresas e passam por um período de análise de alguns meses, se não forem considerados aptos serão descartados do quadro de funcionários sem mais seqüelas.
              Nós também deveríamos nos ver na vida física da mesma forma, afinal de contas, estamos aqui por algum tempo, nada trazemos de onde viemos e nada levaremos quando partirmos. No entanto, enquanto estamos aqui nos sentimos o tal, o dono do mundo, pelo menos daquele mundinho que achamos que conquistamos e merecemos. Será que somos donos realmente de alguma coisa? Ou estamos usufruindo do espaço, como aquele estagiário a quem a empresa cedeu o escritório e propiciou as ferramentas necessárias para que ele desenvolvesse o seu trabalho?
             Não consigo me ver como dono de alguma coisa, não pelo menos tendo a visão de vida eterna e de ser um ser imortal com  muitas vidas já vividas e a viver, tendo que ser muito tolo para ficar digladiando com o mundo  e os seus habitantes por um mísero  pedaço de chão, ou qualquer outra mesquinharia pela qual vejo a humanidade matar e morrer. Como viajante cósmico aqui aportei para um período talvez de aprendizado, talvez de refazimento de forças, para reencontrar velhos amigos, para rever antigas paragens muito queridas, ou para um trabalho qualquer que requeira a minha presença, ou a minha especialização. Sim. Especialização, pois sou um ser único, filho de um Pai maravilhoso, que me dotou com todas as qualidades necessárias para que eu fosse como todos os seus outros filhos alguém especial, alguém capaz e apto a realizar todo e qualquer trabalho para o qual fosse chamado.
          Não teria nexo aqui chegar, sendo recebido por braços carinhosos, por um coração tão amoroso como é o da mãe, aquela menina que me recebeu neste mundo com tantos chamegos, daquele pai que se realizou como ser humano e que abraçou a missão divina que recebeu do alto, e de repente tornar-me mais um como tantos apenas usufruindo das benesses sem dar nada em troca.
          Teria sido um imenso desperdício tanto da parte espiritual como da física, o corpo não é instância de férias para nenhum espírito, nem a vida uma viagem de passeio, sou um estagiário sim, com pleno conhecimento de que meu tempo é curto, que fui incumbido de um trabalho que só eu posso fazer e consciente de que se eu não o fizer agora serei chamado tantas vezes quantas forem necessárias até tudo estar perfeito como deve ser. No entanto, é do meu conhecimento também, que nem sempre terei as facilidades que tenho agora, se acaso vier a falhar...
           Até que um dia, o irmão Antonio me chamou ao seu gabinete de trabalho e me recebeu com aquela atenção e carinho que é sua característica e me falou da minha nova missão.
_Nova missão?
_É meu amigo e ela consiste em entrar em contato com você e lhe transmitir esse trabalho.
_Trabalho? O que você chama de trabalho é me transformar em guardião do seu tesouro enterrado!
_Não!
_Não?
_Meu amigo, permita-me me mostrar como eu realmente sou, com licença!
E ali na minha frente aquele fantasma disforme foi se transformando num belo jovem. Um rapaz de mais ou menos 20 e poucos anos, alto, cabelo claro e comprido na altura dos ombros, como deveria ser a moda na sua época de juventude. E então ele me mandou procurar um espelho e me mirar nele...
Meio a contra gosto eu fiz o que ele pediu e levei um susto, somos muito parecidos, incrível!
_Escute aqui meu caro, você se transformou em mim, como pode?
_Não, meu amigo você é que se parece comigo, só isso.
_como pode?
_Simples, você ainda não sabe, mas somos parentes apesar da distância no tempo. Ou seja, você é meu descendente.
_Ah! Sei! E por isso vou virar guardião do tesouro da família!
_Não é isso meu amigo, a idéia é outra.
_Sim?
_Me fale de você, da sua vida.
_Ué, mas você não sabe tudo sobre mim? Não tem andado na minha cola ultimamente?
_Na cola não, tenho procurado conhecê-lo melhor nos últimos tempos sim, principalmente depois que o vi no Centro todo empolgado nos estudos ao lado daquela mocinha linda...
_Ah! Isso é covardia os espíritos deveriam ser proibidos de se meter tanto na vida dos outros!
_Ah! ah, ah, ah, moleque bobo. Como você acha que a gente nasce por aqui?
_Ah! tá!! Usando a gente né?
_Você já fez isso muitas vezes oras!
_Mas a nossa conversa é outra, sobre a sua vida da qual eu já conheço alguma coisa. Mas jamais entraria na sua intimidade, isso não!
_Tá bom, desculpe minha brincadeira. Minha vida é bem comum. Sou filho único de família classe média. Passei pela primeira infância sem maiores problemas, mas as coisas ficaram algo mais difícil já na adolescência quando meu pai sofreu um acidente e necessitou de uma prótese, foi onde eu precisei antecipar minha entrada no mercado de trabalho. Mas mesmo assim não consegui ver razões para achar a minha vida ou da minha família mais difícil que a dos outros da comunidade e procurei então desde cedo praticar em mim as lições do amor ao próximo... Mas o meu grande sonho era mesmo a medicina voltada para a Pediatria. As crianças sempre mexeram comigo, as suas dores  me fazem refletir o que mais podemos fazer que ainda não havíamos feito.
E munido desse sonho nunca deixei os estudo em segundo plano, fui a busca daquilo que poderia me dar as condições de seguir a minha esperança para onde ela me levasse. E assim as coisas foram acontecendo naturalmente, até que conclui o segundo grau com notas máximas e engraçado... Aconteceu então um fato tão estranho nas nossas vidas, meu pai depois de muitos anos lutando por uma indenização daquele acidente de trabalho conseguiu receber e ficou decidido que iríamos investir aquele dinheiro no meu sonho. Mudei de cidade e iniciei os meus estudos na área que havia escolhido há tantos anos atrás... Aliás, já terminei a faculdade há algum tempo, mas acabei ficando por aqui e a causa é sim aquela moça de olhos claros.
Mas não é só isso não, descobri o que o espiritismo pode fazer pela nossa vida muito cedo e encontrei na Doutrina minhas respostas, então enquanto os outros colegas de faculdade sempre disseram que queriam concluir o curso e partir em busca da fortuna e do sucesso eu sempre ficava me questionando se isso era realmente o mais importante... Então uma vez formado e com a residência médica concluída eu fui ficando e na minha busca de respostas a avó da minha namorada me levou ao Centro. Ali parece que as respostas se consolidaram e das minhas descobertas acabei vendo que do meu lado sempre tinha muita gente necessitando do médico e do amigo, fiquei!!
_Foi isso o que vi em você e que me deixou muito contente, meu amigo, continue, por favor!
_Oras, eu fiquei e comecei a trabalhar na Prefeitura local e nas horas vagas faço algum trabalho social, mas é difícil porque a necessidade do povo é grande, isso sem contar que não adianta detectar o problema e ditar a solução se eles não têm como executá-la, entende?
_Sim, claro!
_No mais junto com alguns amigos projetamos a construção de um pequeno hospital e devagar fazer algo mais pelo povo local e da região se possível… Mas não será fácil!
_Nunca é, e o casório?
_Com pressa de voltar???
_Ah, ah, ah, talvez... Mas um homem sozinho não tem muita responsabilidade e aquela moça é muito bonita prá ficar solta por ai e não pode estar sendo levada no bico a vida toda!
_Antepassado ou um pai chato?
_Os dois moleque!
_Tá bom, quero casar logo sim, tão logo a vida esteja mais calma.
_Então se prepare porque de calma essa sua vida não terá nadica de nada, mas sim, se depender de mim vocês se casam logo, logo...
_De você? O que, quer ser padrinho?
_Padrinho não... Pedrinho!
_?...
_Deixa prá lá menino. Agora preste atenção. Logo mais a noite durante o seu sono físico nos encontraremos lá no Centro para uma conversa com os nossos mentores quando então lhe serão colocadas as regras do seu novo trabalho, ou melhor, do nosso novo trabalho.
E assim foi naquela noite me vi no Centro tão meu conhecido entre pessoas muito simpáticas, algumas minhas conhecidas outras nem tanto. Lá estavam o meu “fantasma” ao lado de outro moço muito sorridente que veio logo me abraçando e que fiquei sabendo ser um dos filhos do Pierre (essa é a primeira vez que ouço o seu nome) e fui apresentado ao irmão Antonio e à filha do Pierre, fiquei maravilhado, pois a filha dele é muito parecida com a minha avó Nita, e mais ainda quando ela me confidenciou ser ela mesma a minha avó que só vi uma vez aos 5 anos de idade...
Estava em família e o irmão Antonio logo após as apresentações delineou os trabalhos que iriam se realizar com o concurso de todos ali presentes.
Notificou-me ele que aquele tesouro enterrado há tanto tempo pelo meu avô Pierre deveria ser por mim resgatado e ser aplicado com parcimônia na construção do hospital e em outras obras sociais e que essa era uma decisão do Alto, se alguma falha ocorresse seria toda minha e do grupo por mim liderado. Mas que eu não me preocupasse porque seriam enviados amigos ao meu socorro a começar pela minha companheira ela também com formação na área média, assistência social.
E que eu não deveria deixar jamais de estudar ou me afastar da Doutrina Espírita, pois essa seria a minha baliza para não deixar me envolver pelo brilho e do domínio do ouro.
Pierre, meu velho fantasma familiar, seria dentro de poucos anos um dos meus filhos e sobre ele recairia talvez a maior parte dos trabalhos iniciados pelo nosso grupo. Mas que me caberia transformar aquele espírito ainda muito materialista em um ser desprendido e capaz de atos de um amor mais universal.
Se não me faltaria ajuda, também a tentação seria muito grande para todo o grupo, então deveria haver de minha parte uma atenção maior em relação aos sentimentos e às companhias. Porque “amigos” em certas situações surgem de todos os lados. Ficou decidido também que tudo isso ocorreria em um futuro próximo, antes eu deveria junto com a minha amada Lucia consolidar o nosso matrimônio e uma vez o Lar constituído dar inicio àquilo que seria a missão de algumas vidas ali envolvidas.
Fiquei sabendo que todos os espíritos envolvidos nesse projeto são velhos conhecidos entre si e que todos irão cada um a seu tempo retornar às lides físicas e que cada terá a sua cota de participação em todo o processo que ali se iniciaria. Foi-nos informado também que não tivéssemos a ilusão de que éramos espíritos alheios uns aos outros, mas sim um grande grupo que ao longo dos séculos intercalavam a sua estadia ora no plano físico, ora no plano espiritual... E todos tinham a sua cota de responsabilidades nos acontecimentos anteriores e nos que ainda iriam ocorrer...
E assim foi, casei e continuei os meus trabalhos no Centro Espírita, trouxe meus pais para junto de mim, eles já estavam bem velhinhos, os filhos foram chegando e a vida acontecendo. Fui gradativamente me envolvendo cada vez mais com os trabalhos sociais, graças a ajuda da companheira, os problemas sempre foram muitos, mas as soluções graças a Deus nunca faltaram, até que uma noite quando eu já havia praticamente esquecido a história do enterro, acordo com uma pessoa no quarto, uma não várias.
Ali estava o irmão Antonio, os filhos do Pierre, o próprio e mais algumas pessoas que eu não conhecia ainda. O irmão Antonio me convidou a integrar o grupo e disse-me que era chegada a hora de por em ação todo o projeto longamente elaborado e já do conhecimento de todos nós, quando ele nos convidou a todos para nos concentrarmos e unirmos nossos corações e pensamentos numa prece endereçada ao Mestre Jesus. E a nossa irmã Nita tomando a palavra orou:
_Divino Mestre, sabemos o quanto somos endividados perante as riquezas da vida. Riquezas essas que manipulamos em muitas encarnações  com o objetivo voltado apenas pra nós mesmos ou ao  nosso reduzido grupo familiar. Quantas quedas causamos aos corações amados ou fizemos aos nossos próprios corações desatentos, quantas vezes colocamos em riscos o progresso da humanidade por acreditarmos que eram nossas todas as posses que o Pai nos emprestava por misericórdia... Hoje depois de tantas quedas mais uma vez aqui estamos rogando ao vosso Divino amor a chance de mais uma vez recomeçarmos o trabalho interrompido de forma tão intempestuosa, sabemos das nossas falhas, mas rogamos forças e coragem para colocarmos todo o nosso amor e toda a nossa energia em prol das vidas com as quais vamos compartilhar e fazermos desse momento o reinicio dão nosso crescimento e evolução... Que a nossa nova estadia nas lides físicas seja de muito trabalho, de muita luta e que possamos ao voltar ao plano espiritual, aqui regressar com a certeza da missão cumprida...
Todos nós estávamos banhados em lágrimas quando a irmã encerrou a prece e o irmão Antonio nos convidou para uma visita aos jardins da Casa para que estreitássemos nossos laços e criássemos mais afinidade no grupo. Iniciamos então uma conversa gostosa, daquela que ocorre entre pessoas que se encontram após um longo tempo de afastamento...
Estávamos nessa conversa quando ouvi a voz característica do irmão Pierre:

_Então menino, vamos??

















Essa é uma história de ficção que não deixa de ter seu fundamento, já que procurei dar ao enredo uma linha baseada toda dentro da Doutrina Espírita, onde os personagens falam das suas vivências e das suas experiências.
Dentro da Doutrina aprendemos a desenvolver a fé raciocinada e a desenvolver a nossa percepção não apenas do certo e do errado, mas também como aplicar o nosso conhecimento em prol não apenas do nosso progresso, mas do progresso de todos aqueles que compõem o nosso grupo espiritual, familiar, humano...
Com a história do nosso querido Pierre aprendemos que o materialismo é uma doença que atinge a todos os seres humanos desatentos da sua capacidade de administrar aquilo que venha a considerar de “seu”. E isto em todos os campos que a posse venha a atuar na nossa personalidade. Afinal vemos pais que transformam os filhos em propriedade sua, fazendo a vida desses filhos num verdadeiro inferno. Temos também aqueles que esquecem os filhos para cuidar apenas do seu trabalho ou qualquer outra ocupação que venham a eleger como as mais importantes em suas vidas....
Necessitamos enfim estar atentos do quanto é importante a nossa vida no corpo físico e não fazer desses momentos que nos parecem tão longos em minutos de desperdício, onde muitas almas gastam o viver em festas, diversões, passeios... Não que estes sejam acontecimentos desnecessários na vida dos encarnados, mas fazer da vida um eterno passeio, isso sim é o lado errado da vida. Afinal de contas se a vida é uma escola como cansamos de dizer por ai, é evidente que priorizar apenas o recreio transforma o estudante em eterno repetente...
Então desejo a todos uma boa leitura, um bom entretenimento sem a pretensão de nenhuma lição mais profunda, pois esse é um trabalho onde procuro compartilhar com todos apenas algumas palavras de carinho e afeto e, é claro, ajudar alguém a desenterrar os seus tesouros e colocá-los em serviço de alguém que estiver ali do lado...



Antonio Celso dos Santos, 11 de outubro de 2012.








Antonio Celso dos Santos, escritor, poeta capão-bonitense, funcionário público da Secretaria de Estado da Educação onde sempre procurou pautar o seu trabalho focado em fazer amigos e cultivar amizades, daquelas que ficarão para a vida toda. Graças a Deus nesses mais de 30 anos de função profissional não são poucos os filhos dessa terra querida que não só passaram pelos bancos escolares, mas compartilharam suas vidas e seus sonhos com esse sonhador...
Espírita, ou pelo menos um constante aprendiz da Doutrina Espírita desde a mais tenra idade, onde levado pela saudosa mãezinha procurou nesse iluminado aprendizado pautar suas ações e seus atos dentro da linha do amor e do respeito pela vida e ao próximo.
Hoje, esposo, pai e avô e nessa constante busca do aprendizado, vem nessas despretensiosas páginas compartilhar com todos os amigos algumas idéias e iniciar uma nova fase no seu eterno sonho de escrever...
Não tendo a pretensão neste pequeno trabalho de criar idéias ou grupos de discussão faz apenas uma leve brincadeira com um assunto que esta na rodas de conversas na nossa região e procurando usar a Doutrina Espírita como pano de fundo...
Que Deus abençoe a todos aqueles que fizerem nestas páginas seu local de encontro e de visitas.