segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A visita da Morte

Há poucos dias recebi uma visita inusitada, a dona Morte resolveu dar o ar da sua graça.
Chegou no fim da tarde, justo naquele momento em que estamos já nos arrumando para as ultimas horas do dia.
Até foi um susto aquelas palmas no portão, justamente quando eu estava pensando na minha querida sogra recém-morta. Não que eu estivesse pensando algo de errado da nossa pobre velha, afinal de contas ela praticamente acabou de passar pro outro lado e não haveria a menor chance de ficar chamando ela de volta. Mas, tudo bem fui atender ao chamado vindo lá de fora quando não foi a maior surpresa em encontrar aquela senhora idosa, meio asmática e o pior de tudo, com um imenso cigarro nos lábios.
Ela estava muito irritada, não sei se pela demora em atendê-la ou se era o seu humor normal,
Mas pela minha longa experiência com as mulheres fui logo tomando pulso da situação mostrando a ela quem era o dono da casa e num grito só perguntei o que ela afinal de contas queria, pois eu não tinha a noite toda disponível para uma reles velha encarquilhada, se ainda fosse uma gatinha...
Foi quando ela se identificou...
Cai na gargalhada!!!!!!
E não deu outra, o meu portão foi pro chão todo esmigalhado, se bem que um portão daquele de madeira carcomida pelo tempo e pelos cupins não era preciso muita força para transformar em poeira, ainda mais com ela mordendo ele daquele jeito...
Quando minha crise de riso amainou foi que prestei atenção naquela senhora, realmente ela parecia bem mais velha do que aparentava e além de feia e de ter bons dentes eu não daria a ela nenhum poder daqueles que acreditamos que uma boa morte tenha. Mas refletindo melhor cada um tem a morte que merece, e aquela dizia ser a minha...
Convidei-a para entrar na minha radiosa vivenda de um feliz solteiro.
Ela não queria entrar de jeito nenhum, nem quando eu disse que o jantar estava na mesa, acreditei que aquela morta de fome não iria enjeitar um belo torresmo bem sequinho boiando num maravilhoso caldo de feijão e uma bela pratada de couve praticamente ralada, foi quando ela me disse que estava de regime.
Eu bem que havia notado, afinal de contas uma coleção de ossos daquela não deveria ser apenas o cartão de visita de uma anoréxica qualquer. Mas tudo bem, vamos lá, a gente conversa aqui mesmo no portão, fui logo dizendo enquanto fazia uma análise mais profunda daquele ser a quem minha sogra se estivesse por perto (graças a Deus que não pode mais estar!), seria bem mais apresentável.
-Muito bem minha senhora, qual é mesmo o seu nome?
-Maravilhosa a seu serviço.
-Sei, respondi enquanto tentava engolir a gargalhada.
-E, o que realmente a senhora quer numa hora já tão tardia?
-Eu vim buscá-lo para a sua ultima viagem, afinal de contas daqui a alguns minutos você será um belo defunto.
-Então quer dizer que a Senhora é a morte realmente. Mas me diga, a senhora já pensou em tirar umas férias? Afinal de contas pelo seu estado eu diria que faz uns bons milhares de anos que a senhora não dá uma descansadinha, que tal entrar e tirar uma soneca no meu sofá?
Ao que ela respondeu com um resmungo que na hora entendi como um não e não restando outra opção sentamos no meio fio mesmo e fomos desfiando a nossa conversa prá lá de estranha, afinal de contas se alguém me visse com aquele velho e carcomido rebotalho no mínimo iria dizer que eu realmente estou matando cachorro a grito.
-Então Dona Morte em que ficamos? A Senhora diz que eu vou morrer e eu digo que realmente ainda não chegou a minha hora, afinal de contas nunca estive tão bem, até academia voltei a freqüentar.
-Em primeiro lugar meu pobre defunto fresco, meu nome não é Dona Morte, mas sim Maravilhosa e depois a mim pouco me importa se você acha isso ou aquilo, o meu serviço eu vou fazer de qualquer jeito.
-Mas me diga lá como é que a senhora sabe que sou eu o escolhido da vez, se não vejo consigo nenhuma anotação, nenhuma prancheta qualquer e se houver algum engano? Se ainda minha sogra, aquela cobra de avental estivesse viva eu diria que haveria alguma verdade na sua afirmação....
-Escute aqui seu mal agradecido não há nenhuma chance de haver algum erro e depois não admito que se fale assim daquela doce senhora que foi muito minha amiga, ouviu?
-Ah!!!! Quer dizer então que eram amigas as duas cobras velhas? Eu bem que achei muito parecida com ela mesmo...
-Cobra velha é a tua sombra seu genro ingrato depois de tudo o que ela fez por você...
-E o que ela fez por mim assim de tão especial, eu posso saber?
-Ué, e a filha linda e sensacional que ela te deu, não vale nada?
-Se aquela filha dela fosse um milionésimo disso tudo, ainda assim ela já merecia o fogo eterno de brinde.
-É, por isso mesmo que faço questão de exercer esse meu serviço importante, pois vou tirar do mundo mais um machista àtoa e careca.
-Careca???? Além de velha coroca você é também meio cega. Não tá vendo esse rabo de cavalo aqui não?
-Rabo de cavalo? Pensei que era uma camisa daquelas de juiz de futebol, com uma mancha nas costas...
-Olha aqui, vamos parar com essa conversa já. Tô vendo que a senhora além de caduca e não enxergar bem ainda é dada a cometer erros. O que nesse caso seria um erro muuuuiiiito grande, não é mesmo?
-Talvéz.... Mas vejamos por um outro prisma, meu jovem froxo e despreparado para as verdadeiras coisas da vida. Você já pensou em quantas cagadas já fez na vida? Você se lembra da escola, nas vezes em que mentia pros seus pais que não tinha aula e caia na rua vagabundeando? Ou então fugia da escola, matando todas as aulas que podia? E aquela vez que você foi roubar frutas do verdureiro da esquina e levou um tiro de sal na bunda, que deixou um belo buraco mal cicatrizado até hoje?
-Buraco de sal na bunda? Escuta aqui sua velha enxerida, quem te contou isso?
-Contar? Seu bocó, eu estava lá do seu lado esfregando as mãos de alegria, sentindo que iria realizar o meu trabalho mais cedo...
-E aquela vez que você foi incumbido pela galera de roubar o gabarito das provas finais de matemática, afanou o papel errado e a turma toda tirou zero e você quase foi capado pela molecada?
-E aquela vez que você levou a melhor amiga da sua mulher pro motel e além de perder a mulher ficou com essa eterna fama de broxa?
-Chega!!!! Cansei desse papo idiota. Eu acredito que você realmente é a morte.
-Mas me permita uma ultima pergunta. Se eu realmente sou o escolhido da vez, como é o meu nome ?
_Nome? Não me deram. Apenas me falaram o endereço, que é esse mesmo e o numero da casa, o 89.
_89??????? Mas aqui é o 69!!!!!!!!!!!
-69? Sugestivo, muito sugestivo meu rapaz de sorte.
_Sorte? Quase que eu morro sei lá do que e tudo por causa de uma morte velha, cega e burra. Uma morte totalmente diferente de tudo o que eu sonhei. Afinal de contas a minha morte tem que ter no mínimo 20 aninhos e olhe lá!
-Cara, mas sou eu mesmo! Não tenho mais que 20 séculos de vida, olhe que lindo.
-Pega os teus 20 segundos de inteligência, ensaca eles e some buscar outro trouxa. Que esse papo tá me dando uma dor no peito.
-Dor no peito?
-Tira a mão daí!!!!
-Olha, eu se fosse você procurava um médico, nunca se sabe. Ainda outro dia uma grande amiga minha, a morte lá de Holywood passou por um perrengue desses e olha que ela é tão jovem quanto você, não passa dos cem anos.
-Sabe de uma coisa eu vou entrar e tomar um porre prá ver se isso não é um belo pesadelo. Visita da morte, bah!
-Olha, eu vou indo e desculpe pelo susto. Ah! Desculpe também pelo portão, mas essa sua cerca... Tá precisando de uma boa reforma. Aliás tudo por aqui tá me parecendo uma bela bosta! Realmente até pra morrer a pessoa tem que ter algum gabarito e você meu amigo é mesmo um grande merda!
- Se cuida, até a próxima!
-Próxima? Seu tu aparecer por aqui de novo com esse papinho idiota eu te mato!!!!


Celso – 13 de dezembro de 09 – 21h33

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